
Padre Augusto teve uma vida terrena feliz e vitoriosa. Segundo Aristóteles é preciso esperar que a pessoa tenha vivido toda uma vida para dizer se ela foi feliz ou não. Felicidade, no seu conceito mais comum, é quando o agir se identifica com o ser. Impossível dissociar o homem Augusto do padre Augusto. Nasceu para ser padre, viveu sendo padre, partiu servindo aos irmãos, como padre. Sim, foi feliz!
E vitorioso porque, ainda que sempre atento ao voto de obediência, jamais deixou que conduzissem a sua vida e a sua história. Viveu valorizando a sua autonomia, porque via na liberdade da sua consciência a luz de Deus. Não foi conduzido, conduziu. Foi um dos primeiros padres brasileiros a se formar em jornalismo. Tinha sede em comunicar a Palavra de Deus, atendendo ao chamado do Evangelho: “Anunciai de cima dos telhados” (Mt10, 27). Escreveu dezenas de livros, artigos, apresentou programas de TV, um deles na Rede Vida por um longo tempo.
Padre Augusto também é vitorioso porque jamais deixou-se abater. Mesmo agora, com mais de 85 anos se disponibilizou a ajudar os padres da Paróquia do Divino Espírito Santo em Varginha, Minas Gerais. Dizia: “Vou fazer o que eu posso, e os padres lá sabem disso”. No ano passado, animadíssimo com o pontificado do Papa Francisco lançou um livro intitulado: “Ninguém Escapa da Misericórdia” pela Editora Paulus, que teve a primeira edição esgotada em poucos dias. Passou por mais de 25 paróquias dando cursos sobre a Misericórdia. Incansável, não deixava de atender a nenhum convite.
Padre Augusto foi ainda um grande incentivador das artes e da busca pelo conhecimento. Sempre procurou estar presente em todas as iniciativas nessa área. Os jovens da Candelária e do Santuário São Judas que o diga. Eu sempre o convidava para dar ao menos uma aula por semestre aos meus alunos da Dehoniana. Desnecessário dizer que os alunos ficavam fascinados com a sua inteligência, o seu discernimento, a sua sabedoria. No primeiro semestre deste ano, falando aos meus alunos, um deles perguntou: “Padre Augusto, qual o segredo da comunicação na Igreja”, e ele respondeu: “Jamais o mensageiro deixar-se confundir com a Mensagem, achando-se maior que ela”. Gênio!
Ele sempre apoiou e incentivou o meu doutorado. Se estou hoje aqui em Madrid devo ao Padre Augusto que conseguiu o valor das passagens aéreas com seus amigos em Itajaí.
Padre Augusto hoje vive aquela realidade que de certa forma esperou por toda a sua vida, especialmente nos últimos tempos onde, de forma muito discreta, se preparava espiritualmente para esse momento... Gosto de imaginar ele chegando no Céu do jeito em que sempre escrevia nos seus livros, em forma de diálogo:
P. Augusto: (Olhando para S. Pedro, com um pequeno sorrisinho) Ah, então é isto, Pedro!
S. Pedro: (meio sério, meio brincalhão) Ainda não, Augusto, aqui ainda é a ante-sala...
P. Augusto: Então posso brincar ainda: Daqui te cima posso ver o Itaquerão?
S. Pedro: (meio bravo, mas achando muito graça) Augusto...
P. Augusto: Sabe como é, Corinthians é Corinthians....
S. Pedro: Ok, Augusto, ok (começa a examinar um grande livro) Augusto, pode ir para ali.
P. Augusto: Mas ali é o Céu,e com certeza eu tenho ainda algumas coisinhas para acertar...
S. Pedro: Augusto, ninguém escapa da Misericórdia (dá uma grande risada)
P. Augusto: (abre um grande sorrisão e toma o caminho do Céu, dizendo) Nessa o senhor me pegou...